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Ao final de um dia de semana cotidianamente normal, chega em casa um familiar que se diz cansado, visivelmente irritado, enjoado, com claros sinais de que não tem ânimo para fazer nada, a não ser ficar quieto em um canto, de preferência na própria cama, em silêncio, alegando muita dor de cabeça já diagnosticada como enxaqueca. Todos conhecemos alguém que já passou por isso. No entanto, quando a cena acima descrita se refere a uma criança de 6 anos, os fatos ficam mais preocupantes.
Crianças podem ter enxaqueca? Sim. A incidência de crianças que, a partir de 5 anos de idade, reclamam de constantes dores de cabeça está aumentando nos últimos tempos. Estima-se que, atualmente, 8% da população infantil tem o diagnóstico de enxaqueca.
Quais as razões para o aumento da enxaqueca infantil?
Muitas são as razões apontadas para explicar o aumento da enxaqueca entre crianças. A causa é, portanto, multifatorial.
Não há a menor dúvida de que a vida está muito mais estressante para os pequenos. A rotina das crianças é intensa, com aulas regulamentares, mais as aulas extras de esportes, inglês, música e outras tantas que os pais julgam necessárias para “preparar” os filhos para uma vida competitiva. O tempo para brincar é mais escasso. A violência urbana impede que as crianças brinquem ou gastem energia ao ar livre. Os jogos eletrônicos tomam conta do tempo livre das crianças com bastante intensidade. O período de sono fica mais curto. Como não poderia deixar de ser, a ansiedade infantil é outra situação que, paralelamente, aumenta a incidência nos dias de hoje.
A alimentação é mais “rápida”, mais “fast”. A indústria oferece uma série de opções alimentares para que as refeições sejam preparadas em menor tempo, posto que na vida acelerada não há um segundo a perder. Resultado: as crianças consomem mais alimentos que notadamente podem causar cefaleia tipo enxaqueca. São exemplos: salsichas, frituras, corantes, queijo tipo cheddar, molhos, refrigerantes tipo cola, cafeína, chocolates e tudo o que contem chocolate como iogurtes ou leites.
Por tudo isso, a enxaqueca infantil aumenta. Crianças queixam-se mais comumente de dor de cabeça, geralmente na região frontal, acompanhada de enjoo, eventualmente de vômitos, intolerância à luz e mal estar. A boa notícia é que as crises infantis em geral são mais curtas que as dos adultos. Duram no máximo algumas poucas horas.
É essencial deixar claro que a dor de cabeça recorrente em crianças merece sempre uma investigação médica mais aprofundada. Há várias patologias que necessariamente devem ser descartadas, como, por exemplo, alteração na acuidade visual, sinusiopatia ou até diagnósticos mais complexos como tumores.
Há tratamento para as crises de enxaqueca infantil. No entanto, o melhor e mais indicado é que estas crises sejam evitadas, posto que debilitam a criança e impedem que ela aproveite em plenitude sua infância. Para a profilaxia das crises, é fundamental que a família procure mudar alguns hábitos que podem desencadeá-las.
Neste sentido, um estilo de vida mais tranquilo, menos ansioso, com mais tempo para atividades lúdicas e uma a alimentação adequada e saudável podem atuar como as condutas mais relevantes no sentido de diminuir a frequência das crises. Pode parecer óbvio, mas é exatamente isso que funciona.
Cultive bons hábitos. O estilo de vida que você escolhe pode dar mais -- ou menos -- dor de cabeça. Vale sempre.