quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Entendendo o TDAH



O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e pode acompanhar o indivíduo por toda a sua vida. Também é chamado de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Em inglês, também é chamado de ADD, ADHD e AD/HD. Caracteriza-se basicamente por sinais e sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.
Embora já tenha havido muita discussão no passado, não há mais dúvidas sobre a existência e importância do TDAH, sobretudo pelo comprometimento social e, em particular escolar a que estes pacientes são submetidos. Entretanto, ainda há muitas pessoas ( profissionais médicos inclusive) que relatam que TDAH não existe ou que " está na moda", seja por inocência, falta de formação científica ou até mesmo má-fé.
Alguns chegam a afirmar que “o TDAH é uma invenção” médica ou da indústria farmacêutica, para terem lucros com o tratamento e que o tratamento do TDAH com medicamentos causaria conseqüências terríveis. Porém, nada disso é consistente, nem tem suporte científico.
Sabemos hoje que o TDAH é o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados. Ele atinge 3 a 5% das crianças, em várias regiões diferentes do mundo em que já foi pesquisado. Em boa parte dos casos, o transtorno ainda acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de agitação sejam mais brandos.
O TDAH se caracteriza por uma combinação de dois tipos de sintomas:

1) Desatenção
2) Hiperatividade-impulsividade

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais IV, DSM-IV(2002), vários critérios devem ser cumpridos para que um indivíduo se qualifique como portador de TDAH. Basicamente, a pessoa precisa apresentar um padrão de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que se encaixe nos seguintes critérios:

1. Persistência: o comportamento tem de persistir por pelo menos seis meses.

2. Início precoce: os sintomas têm de estar presentes (não necessariamente diagnosticados) antes da idade de 7 (sete) anos.

3. Freqüência e gravidade: a desatenção e/ou a hiperatividade-impulsividade devem ter um caráter extraordinário quando comparadas às de pessoas da mesma idade.

4. Claras evidências de deficiência: o padrão comportamental do TDA precisa causar uma interferência significativa na capacidade funcional da pessoa.

5. Deficiência em um ou mais cenários: os sintomas causam problemas sérios em contextos múltiplos, inclusive na escola (ou no trabalho, no caso dos adultos), em casa e em situações sociais.

Além disso, no DSM - IV são fornecidas duas listas, cada uma com nove sintomas. A primeira lista inclui manifestações de Desatenção:

a. não consegue prestar muita atenção a detalhes ou pode cometer erros por falta de cuidados nos trabalhos escolares ou outras tarefas;
b. tem dificuldade em manter a atenção no trabalho ou no lazer;
c. não ouve quando abordado diretamente;
d. não consegue terminar as tarefas escolares, os afazeres domésticos ou os deveres no trabalho;
e. tem dificuldade em organizar atividades;
f. evita tarefas que exijam um esforço mental prolongado;
g. perde coisas;
h. distrai-se facilmente com estímulos irrelevantes e habitualmente interrompem tarefas em andamento para dar atenção a ruídos ou eventos triviais que em geral são facilmente ignorados por outros.
i. Freqüentemente se esquecem de coisas nas atividades diárias.

A segunda lista inclui sintomas de hiperatividade - impulsividade:

Hiperatividade

a. tamborila com os dedos ou se contorce na cadeira;
b. sai do lugar quando se espera que permaneça sentado;
c. corre de um lado para outro ou escala coisas em situações em que tais atividades são inadequadas;
d. tem dificuldade de brincar em silêncio;
e. parece estar "a todo vapor" ou "cheio de gás"
f. fala em excesso.

Impulsividade

g. responde antes que a pergunta seja completada;
h. tem dificuldade em esperar sua vez;
i. interrompe os outros ou se intromete.

Para se fazer o diagnóstico de TDAH, é necessário que a pessoa tenha 6 ou mais características de cada um dos 2 tipos acima,em mais de um ambiente ( na escola e em casa, por exemplo).
Outro aspecto importante do TDAH na infância é que ele se associa a dificuldades na escola e no relacionamento com demais crianças, pais e professores. As crianças são tidas como "avoadas", "vivendo no mundo da lua", "estabanadas" ou “funcionado a todo vapor”.
Os meninos costumam apresentar mais sintomas de hiperatividade e impulsividade enquanto as meninas geralmente são mais desatentas. Além disso, crianças e adolescentes com TDAH costumam apresentar mais problemas psiquiátricos e de comportamento associados, o que pode dificultar o diagnostico e tratamento.
Estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações de funcionamento cerebral em algumas regiões, como a região frontal, a região parietal posterior direita e suas conexões com o resto do cérebro. As principais alterações são do funcionamento de um sistema de substâncias químicas chamadas neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina), que são responsáveis pela transmissão de informação entre as células nervosas (neurônios), o que não ocorreria corretamente nestas pessoas.
A título de curiosidade, a região frontal orbital é uma das mais desenvolvidas no ser humano em comparação com outras espécies animais e é considerada a responsável pela inibição do comportamento (isto é, controlar ou inibir impulsos e comportamentos inadequados), atuando ainda na capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e planejamento. Seu funcionamento incorreto, como no TDAH, levaria a alterações comportamentais e prejuízo social importantes.
Outro dado curioso do TDAH é que ele tem relação bem documentada com alguns aspectos da história pregressa e familiar das crianças, como a presença de história familiar de TDAH, ingestão de álcool e hábito de fumar da mãe durante a gravidez ou problemas perinatais, como prematuridade ou asfixia perinatal. Entretanto, a presença ou não destes dados não é obrigatória para o diagnóstico nem exclui sua possibilidade.
Por fim, é importante ressaltar que o TDAH tem tratamento, que será tanto neuropsicológico quanto medicamentoso e que este deve ser instituído o quanto antes após o diagnóstico ( nunca antes dos 7 anos), como forma de promover na criança um melhor aproveitamento escolar e sua integração social.

O TDAH e os Simpsons

Episódio em que é feito odiagnóstico de TDAH no Bart e se explora a doença, na visão bem humorada dos criadores dos Simpsons