terça-feira, 8 de novembro de 2016

MÚSICA É USADA PARA AJUDAR CRIANÇAS COM AUTISMO

Excelente matéria de Jefferson Gonçalves, para o site: ondda.com

Que a música aproxima as pessoas não é um ideia nova, mas sua aplicação em determinados campos é inovadora e muito importante. Sabemos que ela é um idioma universal e que pode auxiliar crianças, jovens e adultos, pois reflete práticas terapêuticas, mas, a musicoterapia é um poderoso instrumento no tratamento de pessoas com autismo.O autismo é um distúrbio que provoca até três tipos de comprometimentos. Ele faz com que o processamento sensorial seja diferenciado, fazendo com que portadores possam processar melhor informações espaciais e focar apenas em partes separadas, ainda que tenham dificuldade em formar uma ideia geral do todo.
Ou seja, os autistas podem ter dificuldade em entender o outro e se relacionarem com alguém. Podem ter dificuldade na fala; podendo variar desde eles não falarem a até ficarem repetindo a mesma palavra (pois o córtex cerebral auditivo secundário e as regiões frontais do cérebro, responsáveis pelas palavras, estão afetados). E também, desenvolverem variações diferentes de comportamento, tornando-as mecânicos e repetitivos.
Crianças autistas que recebem um acompanhamento terapêutico associado à música tem uma resposta emocional bem mais positiva que as outras.
Pesquisas recentes realizadas por vários países, incluindo o Brasil, indicam que este tipo de técnica tem o poder de desenvolver talentos e habilidades mediantes as experiências que a pessoa com autismo tem no contato com a musicalidade.
De acordo com a musicista e neurocientista Viviane Louro, a música é um recurso salvador para todas as crianças, mas quando se trata de uma que tem autismo, a mudança para melhor é ainda maior.
Ainda segundo ela, a música faz com que todo o cérebro trabalhe e isso permite a remodelação, usando áreas do cérebro que o distúrbio desliga ou inativa.
Programas da secretaria de cultura do Estado de São Paulo, como o Projeto Guri, presente em mais de 340 municípios paulistanos auxiliam no tratamento e na musicoterapia para crianças com quaisquer graus de autismo.
Segundo o professor Gustavo Schulz Gattino, especialista em Musicoterapia e um dos precursores da pesquisa, as pessoas com autismo tendem a apresentar uma alta capacidade para percepção de melodias.
Autistas que tem contato com a música, tendem a relacionar emoções e sentimentos de forma que facilite o envolvimento na comunicação e criatividade.

Música da esperança

O autista que tem um relacionamento com a música tem mais uma ferramenta para se aproximar do nosso mundo.
Lenira de Souza, paulista, tem 32 anos, é mãe do Rafael, um garotinho de 10 anos, diagnosticado com um tipo brando de autismo, o Asperger.
“Percebemos que ele tinha dificuldade em conversar com os colegas na escola. Aos 4, 5 anos, isso se intensificou. Alguns até o empurravam”, conta. “Hoje, ele consegue conversar e fez amigos. Às vezes, quando fica difícil, fala no ritmo November RainPatience…” revela emocionada.

Crianças surdas aprendem a falar com terapia de música

Várias pesquisas já mostraram o papel da música na abordagem de problemas como autismo e outros transtornos psiquiátricos. Mas um novo estudo realizado na Universidade de Aalborg, na Dinamarca, mostrou um bom desempenho da musicoterapia no tratamento de pacientes deficientes auditivos com implante coclear (às vezes chamado de “ouvido biônico”).
A pesquisadora Dikla Kerem analisou o desenvolvimento de crianças de 2 e 3 anos em sessões de musicoterapia, comparando a quando elas iam a sessões de fonoaudiologia com o método de brincadeiras.
“As análises dos vídeos gravados em todas as sessões confirmam que a musicoterapia melhorou a frequência ou a duração dos comportamentos-alvo significativamente mais do que as brincadeiras”, escreve a pesquisadora em sua tese.
Quando nasce, um bebê ainda não sabe distinguir os sons. Para ele, o barulho de uma buzina não é diferente do latido de um cachorro. É com o tempo que ele vai aprender essas diferenças.
“Primeiro, a criança precisa ter atenção para o som. Depois, ela passa a discriminar os diferentes sons. Então, ela começa a reconhecer. E, quando começa a compreender os sons, finalmente, começa a falar”, explica a fonoaudióloga Ana Cristina de Oliveira Mares Guia, doutoranda em saúde da criança e do adolescente.
Ela explica que uma criança que nasce com deficiência auditiva não irá desenvolver nenhuma dessas habilidades que levam à escuta e à fala. Por isso, quando recebem um implante coclear, precisa ser guiada por todo esse percurso até aprender a ouvir e a falar.
“A música, principalmente para as crianças, será um facilitador para promover todo o desenvolvimento dessas habilidades porque tem ritmo, tem entonação, você fala mais fino ou mais grosso, mais alto ou mais baixo”, diz a fonoaudióloga.
Além de desenvolver as habilidades que levam à fala, a musicoterapia também aumenta a taxa de adesão ao tratamento. “As crianças ficam muito mais felizes. A música mexe muito com o corpo, elas adoram”, conta a fonoaudióloga. O tempo médio que uma criança leva para aprender a falar é de um ano após a colocação do implante.
Adultos. O tratamento com a musicoterapia pode ser usado também em adultos que já ouviram, mas perderam a audição por algum motivo. Em adultos que já nasceram surdos, os resultados dos implantes não são muito bons, segundo Ana Cristina.

SUCESSO

Audição de menino hoje é ‘maravilhosa’

O menino Carlos Eduardo Filho, 11, nasceu prematuro e precisou ficar quase um mês internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal. Ainda no hospital, ele pegou uma infecção, que evoluiu para uma meningite bacteriana.
“O diagnóstico foi uma surdez neurossensorial profunda bilateral. Ou seja, ele havia ficado completamente surdo”, conta a mãe, Débora Rodrigues da Silva, 48. A solução encontrada foi que Carlos Eduardo – ou Kadu – fosse submetido a uma cirurgia para a colocação de um implante coclear.
A família se mudou de Manaus, no Amazonas, para Bauru, no interior de São Paulo, para dar ao menino o melhor tratamento. “Aqui, a música fazia parte de tudo. E o que eu entendo é que a função da música é dar movimento aos sons. As crianças se movimentam, pulam, é lúdico”, diz Débora.
Aos 5 anos, Kadu começou a fazer aulas de flauta e, este ano, de violão. “Hoje, a voz dele é perfeita. A qualidade da audição é maravilhosa. Ele estuda em escola regular, faz inglês com crianças da mesma idade”, conta a mãe.


Link para matéria do jornal O TEMPO: http://www.otempo.com.br/interessa/crian%C3%A7as-surdas-aprendem-a-falar-com-terapia-de-m%C3%BAsica-1.1394013http://www.otempo.com.br/interessa/crian%C3%A7as-surdas-aprendem-a-falar-com-terapia-de-m%C3%BAsica-1.1394013

Os sinais de alerta para a identificação do transtorno de déficit de atenção

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é considerado uma desordem neurobiológica que afeta entre 3 a 7% da população infantil, tanto no Brasil quanto em outros países do mundo. Hoje, estima-se que 50% a 80% das pessoas que tiveram o TDAH na infância continuam a apresentar na vida adulta, sintomas significativos associados a importantes prejuízos em diversas esferas da vida cotidiana.
O DSM-5 descreve o TDAH como um conjunto de sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, que se manifestam por meio de um padrão persistente e freqüente ao longo do tempo. Estes sintomas dizem respeito ao excesso de agitação, inquietação, falta de autocontrole, falar em demasia, interromper os outros, responder antes de ouvir a pergunta inteira, incapacidade para protelar respostas, como também distrair-se com facilidade, não prestar atenção à detalhes, dificuldade para memorizar compromissos, organizar e realizar tarefas e perder objetos.
Os sintomas do TDAH aparecem cedo na vida da criança, mas tornam-se mais graves a partir do ingresso desta na escola, porque durante o processo de aprendizagem escolar a criança necessita focar mais a sua atenção e permanecer sentada durante as aulas. Quando uma criança se levanta, sem permissão, é distraída ou não segue as instruções, não é só porque ela sofre de TDAH, mas porque há uma deficiência crônica complexa, envolvida em processos de autocontrole e na capacidade de inibir respostas negativas a um estímulo, mesmo que o aluno estivesse consciente das consequências, o que o predispõe a enfrentar dificuldades para fazer o que se espera dele. Estudiosos têm apontado estas dificuldades como um prejuízo nas Funções Executivas que se localizam na área Pré-Frontal do cérebro, entre as quais cita-se o déficit na inibição de respostas, atenção sustentada, memória de trabalho não verbal e verbal, planejamento, noção de tempo, regulação da emoção e na fluência verbal e não verbal.
No âmbito familiar e escolar, este transtorno é sentido como um fator que promove dificuldades no convívio e no dia a dia. Os adultos acusam a criança de “não escutar”, de não seguir regras e normas, de não conseguir completar as solicitações mais simples, de reagir com agressividade e de não tolerar frustração.  O excesso de atividade motora, o alto nível de impulsividade evidenciada na antecipação das respostas e na inabilidade para esperar a sua vez, diante de um acontecimento, pode provocar, geralmente, um impacto negativo nas relações sociais e ou familiares e promover um alto nível de estresse com quem convive com a criança ou adolescente.
Por outro lado, os adultos tendem a encarar a criança com TDAH, como inoportuna, aversiva e desobediente, ou ainda, preguiçosa, mal-educada e incoveniente, e que tem muita dificuldade para se adaptar no ambiente onde convive e para corresponder às expectativas dos adultos.
As crianças com TDAH apresentam também uma frequente rotina de evitação, postergação e esquecimento das tarefas cotidianas. Os pais descrevem uma rotina familiar estressante, pois as tarefas mais simples podem se tornar uma missão quase impossível de o filho realizar, como por exemplo, tomar banho, escovar os dentes, sentar para as refeições, de se preparar para dormir, pegar no sono e fazer as tarefas de casa. Sem supervisão de um adulto, ele poderá começar outras três atividades sem terminar o que começou e, os pais ficam rapidamente desencorajados, ocupando grande parte do seu tempo de lazer com a criança, principalmente com o dever de casa, que se manifesta como uma das mais importantes incapacidades invisíveis da criança.
O ambiente escolar é uma das áreas mais comprometidas na vida do estudante com TDAH. Desta forma, professores e coordenadores são elementos chave no processo de identificação do transtorno, eles atuam como mediadores ou como um apoio para a família no sentido de indicar o estudante para uma avaliação, ocasionalmente indicando quais especialidades deverão ser consultadas.
É claro que não é responsabilidade direta da escola ou do professor realizar o diagnóstico do TDAH, mas sim identificar dificuldades e prejuízos e compartilhar estes dados com os pais, mesmo que no primeiro momento, os pais estejam defensivos e não os aceitem.
A identificação precoce do quadro determinará a extensão na qual as dificuldades de atenção e hiperatividade estão interferindo nas suas habilidades acadêmicas, afetivas e sociais, possibilitando o estabelecimento de uma proposta de prevenção de problemas, antes do seu agravamento, evitando assim a exacerbação dos sintomas, o nível grave de prejuízos e o grau de sofrimento do estudante.
O conhecimento e a postura dos professores com relação ao TDAH são cruciais, pois a equipe escolar que é avessa ao diagnóstico, quer por desconhecimento ou por razões teóricas e filosóficas, com receio de rotulação e estigmatização, e às intervenções escolares, necessárias a estes estudantes, não colaboram com o processo escolar destes alunos, colocando em risco o seu desempenho escolar, o qual se constitui em uma experiência de vida que tem um enorme impacto no emocional do estudante e da sua família.
O sistema escolar deve ter consciência de seu papel, flexibilizando suas exigências, minimizando os riscos secundários ao TDAH, como fracasso escolar, rejeição, repetência, evasão e exclusão, cujos efeitos negativos na personalidade podem ser de uma magnitude que nem sempre é avaliada e prevista por aqueles que definem e aplicam as normas escolares.
Edyleine Bellini Peroni Benczik é Psicóloga e Neuropsicóloga, Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, Mestre em Psicologia Escolar e Proprietária do Psiquê – Núcleo de Psicologia e Neuropsicologia