Um espaço para informação e troca de idéias sobre os problemas neurológicos mais comuns na infância. Aqui, serão abordados os problemas mais comuns do dia-a-dia de um neuropediatra, de forma a orientar os pais e cuidadores. Alerta: o blog é voltado para os pacientes da Clínica e seus pais, e não tem o intuito de orientar pais que estão navegando na internet a procura de diagnósticos ou tratamentos para seus filhos. Para isso, procure o seu médico.
Há uma série de evidências de que crianças que aprendem a tocar um instrumento musical na infância têm ganhos significativos em habilidades motoras, auditivas e no desenvolvimento da linguagem ( fala, leitura e escrita - anota aí ) e que também são utilizadas em diversas outras situações do dia-a-dia. Além disso, as pesquisas já demonstraram que o aprendizado musical na infância aumenta o desempenho em múltiplas dimensões cognitivas como habilidades espaciais, matemáticas, de linguagem verbal, e até mesmo uma associação com maior QI e desempenho acadêmico na idade adulta já foi descrita.
Rock´n roll baby!
Um estudo longitudinal realizado em Harvard e publicado em 2008 no periódico PloS ONE, confirmou parte desses achados ao mostrar que crianças que tiveram aprendizado musical por pelo menos três anos apresentam melhor desempenho motor, auditivo e também uma melhor habilidade verbal e de raciocínio não verbal. Os resultados poderiamm ser explicados pelo efeito do estudo da música sobre o cérebro, mas também pelo fato de que as crianças que recebem educação musical costumam ter pais mais dedicados ao processo educacional dos filhos como um todo. Além disso, crianças que passam anos no processo de educação musical podem ser genuinamente mais persistentes e motivadas do que aquelas que começam e desistem logo em seguida. E se são mais persistentes para a música, têm chance de serem mais persistentes também nas tarefas da escola.
No corrente ano de 2013, uma pesquisa realizada na Concordia University (EUA) e publicada no Journal of Neuroscience acaba de reafirmar que estudar música e aprender a tocar um instrumento musical antes dos 7 anos de idade pode sim aumentar a capacidade intelectual das crianças e também suas capacidades motoras, a partir de alterações duradouras na estrutura e funcionamento cerebral.
O estudo foi realizado com a participação de 36 músicos, que foram submetidos a um período de atividade musical e, em seguida, a uma ressonância magnética para perceber quais os efeitos despertados no cérebro. Os voluntários tinham os mesmos anos de experiência, mas metade deles tinha iniciado a sua formação musical antes dos sete anos, sendo que os restantes começaram em idades mais avançadas.
Ritmo: útil na música, na fala e na leitura
Análises com ressonância magnética funcional feitos no grupo
estimulado demonstraram que os indivíduos que iniciaram seus estudos de
música precocemente apresentavam um aumento de atividade nas áreas
cerebrais de comunicação entre ambos os hemisférios e, em particular,
nas fibras nervosas que ligam as duas áreas motoras do cérebro.
Os pesquisadores responsáveis pelo estudo revelaram que basta apenas 15
meses de aprendizagem durante a fase inicial da infância para que o
cérebro alcance um desenvolvimento mais complexo. De fato, o cérebro
humano tem uma grande capacidade de se modificar em resposta às
exigências do ambiente. E o que parece dom ou capacidade inata, pode
muitas vezes ser o resultado de uma diferença estrutural em áreas
cerebrais mais estimuladas e, por plasticidade cerebral, modificadas
como resposta ao ambiente.
E você achando que a gente nascia
esperto, burro, inteligente, bobo, capaz ou não e tinha que aceitar,
porque não dava para fazer nada, hein? Então pense de novo, amigão. E rápido!
Para terminar, uma música sobre sonhos e frustrações (Mr Jones, Counting Crows)
"So you wanna be a rock´n roll star, well listen now to what I say: just get an electric guitar and take some time learning how to play"
O cérebro não nasce pronto. Além da genética, as experiências
vivenciadas nos primeiros três anos de vida são determinantes – até mais
do que os genes - para moldar o funcionamento cerebral diante de
situações estressantes, desafiadoras e frustrantes.
Quem avisa é a neurocientista Suzana Herculano-Houzel,
uma das principais estudiosas da “mente das crianças” do País. Segundo
ela, dados científicos comprovam que o carinho dos pais, recebido na
primeira infância (período entre 0 e 5 anos), é o grande responsável por
reações cerebrais - às vezes só manifestadas na vida adulta.
Em palestra realizada na sede da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal
(entidade que elabora programas voltados à população infantil), em São
Paulo, Suzana explicou como as doses de afeto são receitas de sucesso
para arquitetar um cérebro sadio no presente e no futuro. “Receber ou
não carinho modifica para sempre como o cérebro vai reagir diante do
estresse e da frustração”, afirma.
A formação do cérebro “As crianças não são adultas por dois motivos principais: o primeiro é
que elas não têm a experiência trazida com o passar dos anos. O segundo
fator é o cérebro infantil. O órgão não nasce pronto, é menor e mais
leve do que o cérebro de um adulto. Até o terceiro ano de vida, é o
período em que o cérebro mais cresce e ganha peso. Uma das explicações
para o crescimento cerebral é que, neste intervalo de anos, há maturação
das conexões entre os neurônios, o que faz o peso da massa encefálica
aumentar, ficar mais densa. Este processo é determinante para o bom
funcionamento do cérebro.
Durante este amadurecimento cerebral, a criança tem uma
capacidade de aprendizado rápida e impressionante. É o período em que
elas aprendem a detectar sons, enxergar e constituir habilidades, das
mais variadas. Por exemplo: todos nascemos com plena capacidade de
aprender qualquer idioma. Capacidade esta que vamos perdendo ao longo da
vida.”
Influências na formação cerebral
“Este período de crescimento do cérebro é chamado de
período crítico. Todo e qualquer processo de aprendizado, sendo criança
ou adulto, exige a repetição, por meio da tentativa e do erro. Mas nos
primeiros anos de vida, o cérebro compreende mais rápido como reagir,
sem precisar de tantas tentativas assim. Para criar um comportamento e
uma reação padrão diante de algum estímulo - que pode ser um barulho, um
estresse, uma sensação de medo, de solidão ou de felicidade - não é
preciso repetir tantas vezes.
Neste contexto, é claro que a genética influencia em
nossas habilidades e características. Mas a vivência da criança e os
exemplos que ela tem dentro de casa são fundamentais para a criação
deste comportamento. A capacidade de linguagem de uma criança, por
exemplo, é intimamente ligada ao vocabulário da mãe, às palavras que ela
fala com o bebê, só para citar um exemplo da influência do ambiente no
desenvolvimento do cérebro infantil.”
Então, carinho neles!
O poder do carinho
“Sabendo desta influência tão significativa do exemplo no
período de aprendizagem, o estímulo dos pais dados à criança durante a
primeira infância é uma importante ferramenta para o desenvolvimento de
habilidades. Não só isso. O comportamento também é moldado nesta fase.
Se a mãe faz de qualquer probleminha um problemão, o cérebro da criança
aprende a reagir de forma estressada a qualquer situação. Isso significa
que o perfil de reação ao estresse na fase adulta é aprendido e traçado
na infância. São vários fatores que moldam esta reação cerebral. Pode
ser influenciada, negativamente, por violências físicas ou verbais
vivenciadas logo nos primeiros anos de vida. Uma mãe que grita demais ou
age em descontrole passa a mensagem para o filho de que ele deve agir
desta maneira quando não conseguir fazer alguma coisa.
A boa notícia é que o carinho também molda o cérebro. São
várias pesquisas científicas que compravam o carinho físico, o toque e o
contato como um moldador cerebral que torna a criança mais hábil e com o
sistema de proteção orgânico mais forte. Isso acontece por causa da
ocitocina, um hormônio altamente influente na formação cerebral, que é
produzido durante a amamentação e liberado também no abraço, no beijo,
na massagem. A ocitocina é responsável por fazer com que o cérebro
produza a capacidade de vínculo e acalma todas as partes cerebrais
acionadas em situações estressantes. O que é uma ótima prevenção da
ansiedade e outros transtornos de comportamento que, às vezes, só se
manifestam na vida adulta. Receber ou não carinho modifica para sempre
como o cérebro vai reagir diante do estresse e da frustração. Mas apesar
de ser muito mais marcante na infância, o carinho sempre influencia.
Nunca é tarde para começar.”