terça-feira, 27 de junho de 2017

Oscilação hormonal em meninas interfere em crises de enxaqueca

Noticia retirada do site: http://www.correiobraziliense.com.br

Fatores como alimentação e estresse podem estar relacionados às crises de enxaqueca, independentemente do gênero. Mas a dor de cabeça latejante e intensa é mais comum em mulheres: três vezes mais frequentes do que nos homens. Por isso, cientistas dos Estados Unidos decidiram observar, em meninas e adolescentes, qual a influência dos hormônios femininos na ocorrência desse tipo de cefaleia. Após analisar 34 voluntárias, concluíram que níveis mais altos de progesterona podem reduzir as chances de crises de enxaqueca entre as mais velhas. Detalhes do trabalho foram publicados na revista especializada Cephalalgia e, segundo os autores, têm o potencial de ajudar no desenvolvimento de estratégias de tratamento mais eficazes

As participantes do experimento foram divididas em três faixas etárias: 8 a 11 anos, 12 a 15 anos e 16 a 17 anos. Todas eram pacientes do Hospital de Crianças de Cincinnati, nos Estados Unidos, unidade especializada em dor de cabeça. Durante 90 dias, foram coletadas amostras diárias de urina das voluntárias, que também tiveram que registrar em um diário a ocorrência e a gravidade das dores de cabeça. A quantidade dos hormônios sexuais estrogênio e progesterona na urina foi correlacionada com os relatos escritos.

Os resultados mostraram que, nas adolescentes mais velhas, quando os níveis de progesterona estavam baixos, o risco de elas serem acometidas por uma crise de enxaqueca era de 42%. O valor caía para 24% quando havia taxas maiores do hormônio. No grupo mais novo, porém, o efeito foi contrário: 15% de chance de ter a complicação quando havia níveis baixos de progesterona, e 20% em nível alto.



“A progesterona parece ser o fator mais importante no desencadeamento da enfermidade nas meninas jovens. No entanto, esse efeito parece diferir dependendo da idade das garotas”, explica ao Correio Vincent Martin, codiretor do Centro de Dor de Cabeça e Dor Facial do Instituto de Neurociência UC Gardner, nos Estados Unidos. Segundo ele, essa reação contrária deve estar relacionada às mudanças hormonais características da adolescência, época também em que costumam surgir as primeiras crises de enxaqueca. “Os hormônios provavelmente agem sobre os caminhos da dor do nervo trigêmeo, desencadeando as dores de cabeça”, detalha. “À medida que o cérebro está se desenvolvendo nessas meninas, pode haver diferenças na sensibilidade dos receptores cerebrais e seus papéis na ocorrência de enxaqueca.”

Andrew Hershey, diretor de Neurologia doo Hospital de Crianças de Cincinnati, explica que as meninas começam a sofrer as primeiras mudanças da puberdade entre 8 e 10 anos. À medida que segue o desenvolvimento puberal, geralmente ocorrem flutuações hormonais cíclicas e períodos menstruais irregulares. “Já demonstraram que um padrão de dor de cabeça mensal pode começar durante esses estágios iniciais. Quando envelhecem, seus períodos menstruais tornam-se mais regulares, assim como as flutuações hormonais, e, aos 17 anos, a maioria das meninas tem padrões hormonais adultos”, detalha.


Suspeita

Márcia Neiva, Neurologista do Hospital Brasília, avalia que o estudo dá sustentação científica a uma suspeita comum nos consultórios. “Sabemos que as mulheres são mais acometidas por enxaquecas, o que aponta para influências hormonais. Já sabemos também que alguns anticoncepcionais podem evitar a enxaqueca, por exemplo. Para pacientes que sofrem com enxaqueca, sempre indico medicamentos contraceptivos feitos com base na progesterona, pois foi demonstrado que o uso deles diminui a quantidade de crises”, diz a especialista.

Renato Mendonça, neurologista do Laboratório Exame em Brasília, ressalta que ainda há muito a estudar sobre a influência dos hormônios femininos no corpo humano. “Sabemos pouco sobre eles, mas temos certeza de que estão envolvidos em diversos fatores, como o humor, e que se combinam, provocando uma gama de influências. No caso na enxaqueca mesmo, é difícil vermos mulheres mais velhas com essa enfermidade. Ela é mais frequente em jovens, algo que indica também uma mudança causada pela alteração hormonal.” Na maioria dos casos, as crises desse tipo de cefaleia desaparece após os 50 anos.


Multifatorial

Apesar da influência hormonal detectada, os autores do estudo destacam que outros fatores estão envolvidos na ocorrência de enxaquecas. “As mudanças que vimos podem refletir o tempo mais cedo que as meninas começam a responder aos hormônios. Poderia também explicar por que as crises se desenvolvem em adolescentes, mas muitos outros fatores precisam ser avaliados, já que esse é um problema multifatorial”, ressalta Vincent Martin.

Os resultados atingidos, segundo a equipe, abrem um caminho de possibilidades em busca de intervenções mais eficazes contra um problema considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das principais causas de anos perdidos por incapacidade. “É possível que algumas terapias hormonais possam ser dadas a adolescentes mais velhas para prevenir a enxaqueca, mas isso precisa ser investigado em estudos futuros”, diz Martin.

“É possível que algumas terapias hormonais possam ser dadas a adolescentes mais velhas para prevenir a enxaqueca, mas isso precisa ser investigado em estudos futuros”

Epilepsias: o que pode desencadear crises?

Uma entrevista da dra Elza Marcia Yacoubian, retirada do site noticiasaominuto.com.br:

Como agir ao atender uma crise epileptica


A epilepsia é uma doença crônica caracterizada por crises epilépticas recorrentes. Essas crises, por sua vez, acontecem devido a descargas elétricas anormais e excessivas no cérebro e podem se manifestar de diversas formas, como convulsões, crises de ausência, entre outras. Entretanto, existem também alguns fatores externos capazes de as desencadear, influenciando diretamente em sua frequência. O problema é que muitas pessoas desconhecem esses fatores e, por isso, não são capazes de se prevenir.
Para que esse assunto se torne mais claro e conhecido, a Dra. Elza Márcia Yacubian, neurologista, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e secretária da Liga Brasileira de Epilepsia (LBE), dá dicas sobre o tema. Confira abaixo!
• Quais são os fatores que favorecem a ocorrência de crises epilépticas? A idade, de alguma maneira, tem relação?
Os fatores desencadeantes de crises epilépticas são dependentes da idade. Por exemplo, em crianças de até 6 anos, destacam-se as crises febris, que ocorrem principalmente com a elevação súbita da temperatura. Já na adolescência, as crises generalizadas (como ausências, mioclonias e convulsões) começam a aparecer e tendem a se manifestar pela manhã, até duas horas após o despertar, ou no momento de cansaço excessivo, quando acontece o relaxamento do final do dia.
Na vida adulta, as crises podem acontecer mais comumente durante o sono, principalmente as crises focais, que comprometem áreas mais restritas do cérebro. Além disso, privação de sono, ingestão alcoólica, estresse, hábitos de vida não saudáveis, como sedentarismo e consumo excessivo de alimentos ricos em gordura, processos infecciosos, menstruação, desidratação e uso de alguns medicamentos como antidepressivos em doses elevadas (ou a retirada deles) também podem aumentar a frequência de crises.
• O que pode ser feito para evitá-los e/ou combatê-los?
Ao entender o que pode influenciar a ocorrência de crises, a pessoa com epilepsia deve se policiar para evitar maus hábitos e situações frequentes no dia a dia, como dormir poucas horas por noite, alimentar-se mal e passar por momentos de estresse.
Importante lembrar que, entre aquelas que fazem uso de medicamentos para a prevenção de crises, a perda de uma dose é um fator desencadeante muito comum. Então, nesses casos, é importante que haja um cuidado para não esquecer de tomar o remédio nos momentos certos. Familiares e pessoas próximas tem um papel importante no auxílio e apoio aos pacientes nessas situações.
A identificação de fatores desencadeantes e consciência sobre essas questões é parte integral do tratamento. Muitas vezes, apenas o uso adequado dos fármacos, responsáveis pelo controle das crises, é insuficiente. Paraquem tem epilepsia, evitar os fatores externos pode ser igualmente importante para a estabilidade do quadro clínico.
• Existe relação entre estresse, ansiedade e as manifestações da epilepsia? Se sim, o que as pessoas com epilepsia podem fazer para evitá-los?
Há poucos dados na literatura sobre as relações entre as causas que envolvem o ambiente, em relação ao estresse, depressão e ansiedade, quando se fala em epilepsia. Porém, uma recente pesquisa, realizada no Norte de Manhattan e no Harlem, mostrou que fatores estressantes, como dificuldade de integração social, depressão e transtorno de ansiedade generalizada, aumentavam o risco de repetição de crises em duas a três vezes. Esses números corroboram a importância do acompanhamento psicológico, representado, por exemplo, por meio da terapia de relaxamento, terapia cognitivo-comportamental (abordagem mais específica, breve e focada no problema atualda pessoa com epilepsia), biofeedback (técnica que ensina a prestar atenção no funcionamento do corpo) e educação sobre a doença.
• Quais as dicas que você dá para os familiares e amigos próximosde pessoas com epilepsia, para que ajudem a evitar situações de desequilíbrio emocional?
É essencial que as pessoas que estão por perto, como os cuidadores, familiares e conhecidos, não excluam a pessoa com epilepsia e convivam com ela com naturalidade. A inclusão social é importante para que ela saiba lidar melhor com a própria doença e não se sinta sozinha em sua jornada.
CURIOSIDADE
É verdade que alguns tipos de imagens, encontradas em materiais físicos ou na internet, que tenham diferentes efeitos (como aquelas que causam tontura) podem ser indutores de crises?
Estímulos luminosos intermitentes, como as luzes de danceterias, padrões visuais como os presentes em jogos de videogame, formas geométricas, barulho, música e leitura podem provocar crises em casos de epilepsia reflexa que representa menos de 2% dos casos de epilepsia.
No Japão, já houve uma epidemia de convulsões na qual 700 crianças que assistiam ao desenho Pokemon convulsionaram no mesmo dia, devido a um acentuado contraste nas cores azul e vermelha em uma das cenas. Porém, somente as pessoas que têm o tipo de epilepsia mencionado apresentam risco com estas atividades. Deve ser lembrado que o cansaço excessivo e a privação de sono, condições comuns às pessoas que passam muitas horas nestas atividades, também podem estar por trás das crises que os pais, por exemplo, podem atribuir à exposição excessiva ao vídeo-game ou ao computador.