segunda-feira, 29 de maio de 2017

"Convulsão em crianças": entendendo a epilepsia na infância

As epilepsias são síndromes neurológicas caracterizadas pela presença de crises epilépticas repetidas e suas repercussões sociais, familiares, cognitivas e emocionais. Por diferenets motivos, desde causas genéticas a presença de cicatrizes cerebrais, um grupo de neurônios começa a emitir de forma sincrônica uma série de descargas elétricas, que gera diferentes manifestações corporais e sensações, em geral ocorrendo simultaneamente a perda de consciencia. A maioria das epilepsias ocorre na infância e adolescencia, em geral sem grandes sequelas para os pacientes - que levam vida normal - e sem maiores problemas intelectuais, sociais ou de desenvolvimento. Além disso, a maior parte das epilepsias infantis tem bom resultado com o tratamento, e as crianças costumam ficar sem crises e livres dos medicamentos antes da vida adulta.
Retirado de: http://www.avidaquer.com.br/conviva-com-epilepsia/

Identificando uma crise epiléptica

Os pais e médicos generalistas tem muitas dificuldades em identificar e classificar corretamente crises epilépticas. Em alguns casos, mesmo o neurologista não consegue identificar com precisão que sintoams são aqueles. Por isso, é fundamental que os pais filmem os eventos e movimentos anormais apresentados,apesar das dificuldades e do desespero da maioria, no momento dos eventos.
Além disso a identificação de um fator causador como febre (temperatura axilar acima de 37,8 graus, medida ANTES da crise), sonolência, cansaço, ocorrencia durante pratica esportiva ou em frente a jogos eletrônicos), ajuda bastante na classificação das epilepsias. Apenas como registro, ressaltamos que convulsões febris, de ocorrência entre 6 meses e 5 anos, tem evolução própria, benigna, e não se enquadra no perfil das epilepsias.
Algumas manifestações que podem ser de crises epilépticas:
1- A criança perde o contato com o mundo, desconecta da realidade ou apresenta ausências breves.
2- Apresenta contrações musculares fortes, com sacudidas dos músculos.
3- Apresenta sudorese excessiva, urina ou defeca na roupa durante o evento, movimentos de piscadas, contrações faciais ou mastigatórios.

Diagnóstico e tratamento da epilepsia na infância

Na grande maioria dos casos de epilepsias na infância, as crises epiléticas desaparecem com o amadurecimento cerebral e com o passar dos tempos. Contudo, quanto mais crises o indivíduo tem, mais frequentes e intensas se tornam as crises. E mais difícil se torna seu controle com medicamentos.
Caso uma criança tenha qualquer manifestação de possível crise epiléptica, deve ser imediatamente levada ao Pronto Atendimento. Lá serão investigadas possíveis causas para a crise, que necessitem de intervenção médica urgente e, na ausência disso, a criança será encmainhada para avaliação ambulatorial. A realização de exames de imagem ou eletroencefalograma, em geral, deve ser feita ambulatorialmente. Estes exames não dão o diagnóstico de epilepsia, e apenas ajudam na classificação do tipo de epilepsia ( com frequencia os exames não mostram anormalidades).
As epilepsias atualmente têm inúmeros meios de tratamento e os novos remédios controlam as crise sem gerar efeitos colaterais ou afetar a qualidade de vida das crianças. Em casos raros, em que não ocorra controle das crises com medicamentos, utilizamos tratamentos diferentes, como cirurgias, dieta cetogênica, uso de estimulador vagal, dentre outros. Os medicamentos a base de Cannabis, tão discutidos nos últimos anos no Brasil, tem pouquissima utilidade na prática clínica, são pouco estudados e usados em casos pontuais, excepcionalmente, como ultima medida. 

Curiosidades sobre as epilepsias:
1- As epilepsias não são sempre genéticas.
2- Há vários tipos de crises epilépticas
3- A epilepsia não é uma doença mental, nem contagiosa.
4- 80 por centro das crises controlam-se com medicação antiepiléptica
5- Para a maior parte das pessoas com epilepsia, as consequencias psicologicas, emocionais e de aprendizagem são mais importantes que as crises em si.
6- 30% da população terá uma crise epiléptica em algum momento da vida. Mas apenas 1% da população tem epilepsia.
7- Durante uma crise epiléptica, o importante é proteger bem a cabeça da criança e evitar que ela se asfixie com o seu próprio vômito, posicionando seu corpo e sua cabeça de lado. Nada de enfiar a mão na boca para desenrolar a lingua!!! Além do perigo de cortar o dedo, essa manobra é inutil: a lingua se desenrola sozinha depois de alguns segundos de crise.
8- A epilepsia é mais comum em crianças, adolescentes e idosos.

Impedir que o paciente engula a própria língua durante uma crise é um mito. O correto é virar o paciente de lado, protegê-lo, deixar que a saliva escorra e aguardar calmamente que a crise acabe



sábado, 27 de maio de 2017

Meu filho tem a cabeça torta. E agora?

As alterações de crescimento e de formato do perímetro cefálico são muito comuns no primeiro ano de vida, e trazem muitas preocupações para pais e pediatras. Contudo, a cabeça "amassada", torta ou assimetrica pode existir nos primeiros meses de vida, tanto pela posição do feto na barriga/útero da mãe quanto pela passagem do bebê no canal vaginal - por isso essas alterações são mais comuns em bebês nascidos de parto vaginal. Como os ossos cranianos não estão grudados, fundidos, ainda, pode haver uma modificação temporária no formato da cabeça, quando submetida a pressões assimétricas. Contudo, com o tempo, ocorre um remodelamento natural do formato do cranio.

A passagem pelo canal vaginal por deformar um pouco o cranio do bebê, sem maiores riscos





Assimetrias cranianas e sinais de traumatismo no parto: Bossa (caput succedaneumserossanguínea a bossa é uma tumefacção (inchaço) na zona de apresentação da cabeça ao nascimento, por edema do couro cabeludo, que pode estender-se sobre as suturas (união dos ossos cranianos). Habitualmente, desaparece nos primeiros dias de vida e não precisa de nenhum tratamento. Quando são bossas grandes, pode surgir icterícia com necessidade de fototerapia ("luzes"). cefalohematoma é uma hemorragia limitada à superfície de um osso craniano (habitualmente o parietal), muitas vezes só notada algumas horas após o nascimento e que não passa as linhas de sutura. Por vezes, pode haver uma pequena fratura associada. Normalmente, não é necessário qualquer tratamento (pode surgir icterícia) e a maioria dos cefalohematomas é reabsorvida entre a 2ª semana e o 3º mês de vida, conforme o tamanho. Só em situações raras há complicações graves associadas. A craniossinostose é decorrente do fechamento precoce das suturas dos ossos dos bebês, o que impede o crescimento do cérebro e pode gerar retardo mental futuro. Hemorragias subconjuntivais e retinianas: devido ao aumento súbito da pressão dentro do tórax do recém-nascido, podem surgir pequenas hemorragias no rosto e no pescoço, assim como nos olhos (subconjuntivais e retinianas
), que não necessitam de tratamento e são temporárias. 





Além disso, é comum que ocorra um crescimento assimetrico do cranio em crianças que ficam muito tempo deitas na cama ou no carrinho de bebê, na mesma posição, gerndo uma pressão maior de um lado que em outro, e crescimento irregular do cranio, chamado de plagiocefalia posicional. Para evitar isso, o indicado é sempre revezar o lado em que o bebê ficará deitado, inclusive avaliando se há algo no berço ou ao redor que chame a atenção dele para um lado só.



Esquema de como se desenvolve a plagiocefalia posicional
Plagiocefalia posicional: foto retirada da web


Até 15% das crianças nascem com algum tipo de assimetria na cabeça. Porém, a imensa minoria necessita de uma intervenção cirúrgica por fusão precoce dos ossos (cranioestenose ou craniossinostose), condição que pode impedir o crescimento adequado do cérebro e gerar atraso do desenvolvimento e retardo mental irreversível. 



Adicionar legenda
Como avaliar o crânio de seu filho. Retirado de https://noticias.uol.com.br/saude/album/14122011plagiocefalia_album.htm#fotoNav=1

 Por fim, é fundamental lembrar que a avaliação pediátrica frequente, em que existe análise do desenvolvimento e medidas periódicas da cabeça, são o melhor meio de avaliar e prevenir qualquer problema neurológico e craniano das crianças. Seu pediatra irá sempre monitorar isso, tirar suas dúvidas e encaminhá-lo ao neuropediatra caso seja necessária uma avaliação mais aprofundada.

Avalição pediátrica de rotina: a melhor forma de prevenção
Foto retirada do site do dr Ulysses Fagundes ---> http://www.igastroped.com.br/o-instituto/equipe/prof-dr-ulysses-fagundes-neto/minha-historia/capitulo-13/

Estimule seu filho a falar!!!

A excepcional revista CRESCER publicou em 2013 uma excelente matéria sobre como estimular o seu filho a falar. Embora seja de 4 anos atrás, a matéria segue útil e mais atual que nunca. Você lerá um trecho abaixo, e pode ler na íntegra aqui.




Quando meu filho vai começar a falar? Qualquer pai e mãe se faz essa pergunta e espera ansiosamente pela primeira palavra do bebê. Em média, as crianças começam a balbuciar com 1 ano. Os primeiros sons estão mais para sílabas do que palavras, como “mã” e “pa”. Mas não importa como aconteça, esse momento trará uma emoção enorme.
Para que a criança continue desenvolvendo suas habilidades com a fala, é preciso estimulá-la. O jeito mais natural de fazer isso é conversar com os bebês. No entanto, uma pesquisa realizada na Universidade de Chicago (EUA) provou que ações não-verbais podem ser tão importantes quanto o bate-papo para melhorar esse aprendizado.Por exemplo, o ato de apontar para um livro enquanto se diz “a mamãe vai pegar um livro” facilita a memorização dessa palavra.

O estudo avaliou 50 bebês entre 14 e 18 meses e gravou vídeos enquanto eles interagiam com os pais. Uma das descobertas foi que o uso da fala associada a um contexto específico (falar “livro” quando se está perto de uma estante) variou muito de um pai para o outro. Os filhos daqueles que falavam mais palavras relacionadas ao contexto ou aos objetos em questão apresentaram um vocabulário mais amplo três anos mais tarde. Segundo os pesquisadores, com pequenos ajustes nas conversas os pais podem dar um estímulo mais eficiente à fala das crianças.
De acordo com a fonoaudióloga Ana Maria Hernandez, coordenadora da equipe de fonoaudiologia do Hospital Santa Catarina (SP), falar dentro de um contexto e fazer gestos (como apontar para o objeto) podem favorecer o aprendizado, pois é uma maneira de o adulto apresentar o mundo para a criança. No entanto, a fala também depende de vários outros fatores para se desenvolver. “Ela é uma expressão da linguagem e, como tal, resulta da integração entre diversos sistemas. A criança precisa estar com o sistema neurológico preservado, a parte motora e psicológica também”. Ou seja, até o carinho que você dá para o seu filho pode fazer diferença no desenvolvimento da fala.
A seguir, listamos algumas dicas que você pode adaptar sem muito trabalho ao seu cotidiano:
Narre o mundo
O conceito pode parecer estranho, mas na prática é muito simples. Converse com o seu bebê sobre aquilo que o rodeia. Na hora de trocar a fralda, por exemplo, vá nomeando suas ações: “vou limpar seu bumbum, vamos colocar uma fralda limpinha, você vai ficar cheiroso”. Durante um passeio no parque, apresente as árvores, a grama, os passarinhos. Apontar, como explicado na pesquisa, também é um ótimo recurso porque dá forma às palavras. A criança associa o som ao objeto e fica muito mais fácil decorar o nome dele.

Atenção ao tom de voz
Quando falamos, colocamos sempre uma entonação em nossa voz, que pode significar dor, alegria, tristeza... Não tenha medo de se expressar na frente do seu filho, porque isso vai o ajudar a decodificar as emoções.

Dê atenção e espaço para o bebê
Passar um tempo se dedicando integralmente à criança é importante para criar um ambiente emocional saudável e também para perceber o que ela tem a dizer, mesmo que não o faça com palavras. Dê espaço para a criança demonstrar seus sentimentos e suas vontades. Ou seja, você não precisa ficar falando sem parar na frente do seu filho achando que assim ele vai começar a falar mais cedo. Dar espaço para o silêncio também é importante – ele também é uma forma de comunicação.

Cante. Sem medo de desafinar
Além de conversar, cantar pra criança é essencial. A sonorização, a rima e o ato de cantar transformam a fala em brincadeira, e isso comprovadamente ajuda o desenvolvimento da linguagem, do vocabulário e facilita o período de alfabetização. Outro ponto forte das músicas são os refrões porque a repetição prende a atenção das crianças. Permita que seu filho conviva com diferentes sons e melodias. “Muita gente entra naquela discussão de direitos humanos, que ‘atirei o pau no gato’ passa uma mensagem de violência, mas nos primeiros anos para a criança o que importa é a sonoridade”, diz a pedagoga Eliana Santos, diretora pedagógica do Colégio Global (SP).

Leia histórias e poesias
As histórias, além do estímulo que representam à imaginação, aumentam o vocabulário e a curiosidade sobre a linguagem. Os poemas, assim como as músicas, têm ritmo e sonoridade bem acentuados. Comece com os textos de rimas diretas e, aos poucos, vá sofisticando. Vale lembrar que a leitura não pode ser mecânica. Coloque emoção e pontue cada frase.

Explore sinônimos
Quando seu filho perguntar “qual é o nome disso?”, não se contente em dar uma só resposta. Claro que nem todos os sinônimos ela vai memorizar imediatamente, mas no dia a dia procure variar o jeito como você define as coisas. Eliana dá um exemplo divertido que usava em sua própria casa: “Eu falava para lavar as nádegas em vez de bumbum. Aos poucos, a criança vai enriquecendo seu vocabulário.”

Permita a convivência
Conviver com outras crianças é importante. “Quando uma criança convive com a outra, ela observa muito e repete. Essa troca enriquece sua experiência”, afirma Eliana.

Criança aprende brincando
É isso mesmo. Nada de transformar o aprendizado da criança em algo mecânico. Se a criança está se divertindo e fazendo determinada atividade com prazer, ela aprende muito mais rápido. A dica aqui é: entre pela porta que ela abre para você. Ou seja, se ela se mostrou interessada por um livro específico, em vez de forçar a leitura de outro, ajude-a a explorá-lo. Se ela está tímida, não a obrigue a ficar no colo de todos os parentes da festa. E nada de desespero: se você prestar um pouquinho de atenção, vai identificar a vontade do seu filho em determinado momento.

terça-feira, 23 de maio de 2017

MEU FILHO TEM TIQUES: COMO ASSIM?

Manias, todos nós temos. Porém, em alguns casos, essas manias se tornam incontroláveis, podem ser percebidas pelas pessoas ao redor e trazer desconforto e angústia. Falo dos famosos tiques: movimentos involuntários curtos, rápidos, sem intenção, praticamente idênticos e repetitivos, mas não rítmicos. Essse movimentos podem ser suprimidos, mas apenas por um curto período e somente com um grande esforço dos indivíduos.
Embora os tiques geralmente sejam simples e transitorios, podem vir em forma mais complexas e persistentes, com na sindrome de Tourette
Em geral, os tiques são mais comuns na infância e podem ocorrer sozinhos ou serem causados por uma doença, toxina ou um medicamento. Além disso, podem ocorrer como parte de outro distúrbio, como a doença de Huntington, o transtorno obsessivo-compulsivo, algumas infecções ou derrame. 
Estima-se que os tiques afetem cerca de 20 % das crianças em alguma fase da infância e sejam mais comuns e intensos em meninos. Além disso, sabe-se que, por vezes, os tiques podem persistir até a idade adulta, causando constrangimentos e baixa autoestima.
Os tiques podem ser classificados em simples ou complexos. Os tiques nervosos podem ser motores (quando ocorrem contrações como caretas, piscamentos, encolhimento do ombro, etc…) ou vocais (quando ocorre emissão de sons como tosse, grunidos, estalos ou mesmo palavras inteiras).

Os tiques simples, como piscar em excesso, fazer careta ou sacudir a cabeça, podem começar apenas como maneirismos nervosos. Os tiques complexos, como os presentes na síndrome de Tourette, envolvem varias áreas corporais ao mesmo tempo, e geralmente imitam gestos de um comportamento normal.

Do ponto de vista prático, a criança sente uma vontade irresistível de piscar, fazer careta, sacudir a cabeça ou mover-se de qualquer outra maneira. A maioria dos tiques é transitoria, ou seja: o tique desaparece sozinho. Contudo, se forem persistentes ou graves, o uso de sedativos suaves ou medicamentos antipsicóticos indicados pelo neuropediatra podem ajudar bastante.

O tratamento mais incisivo é reservado para os casos mais graves e envolve tanto medidas comportamentais  como medicamentos. Os índices de controle chegam a cerca de 80 %. O uso de medicamentos pode ser eventualmente descontinuado caso o paciente fique um tempo livres dos tiques.


Para ler mais sobre o assunto tiques ou sobre sindrome de Tourette, clique AQUI

domingo, 14 de maio de 2017

Atraso na fala: e agora?

Retirado de: Guia do bebê

Mitos e verdades sobre epilepsia

Trinta por cento da população terá uma crise epiléptica em algum momento da vida. Porém, as epilepsias são um distúrbio neurológico que acomete 1% da população. Caracterizam-se pela presença de duas ou mais crises epilépticas ou, ainda, uma crise epiléptica em um indivíduo com grande predisposição de ter a segunda crise ( probabilidade avaliada pelo neurologista), e suas repercussões emocionais, sociais e cognitivas. Em um grande numero de casos a epilepsia é genética, embora nem sempre herdada da família da mãe e do pai, e cerca de 80% das epilepsias tem início ainda na infância. Seu diagnóstico é clínico, e deverá ser dado por um neurologista. Os exames complementares (tomografia, ressonância, eletroencefalograma, dentre outros) não dão o diagnóstico da doença, mas ajudam a classificar o tipo de epilepsia do indivíduo, o que ajuda no tratamento e nos dá a evolução do quadro e o prognóstico.
Abaixo, o blog responde sobre alguns mitos e verdades sobre epilepsia.


1- O único sintoma de uma epilepsia são as crises epilépticas. MITO!
Há vários tipos de crises epilépticas e vários sintomas que podem aparecer antes, após e durante as crises. Muitos pacientes apresentam tonturas ou dores de cabeças frequentes antes de terem as crises epilépticas. Antes das crises, muitos sentem formigamentos, mal-estar na boca do estômago ou sensações ruins. Após, é comum que as pessoas tenham confusão mental, sonolência, desarticlação da fala, dor de cabeça, enjôos e vômitos, dentre outros.

2- Existem dois tipos de crises da epilepsia: crises parciais (simples e complexas) e crises generalizadas. MITO!
Há diversos tipos de crises epilépticas, sobretudo na infância. Há crises de espasmos, ausências (desconexão breve, de até 20 segundos), mioclônicas ( choques), de perda de tônus ( atônicas). Há as crises tônico-clônicas generalizadas, em que as descargas elétricas anômalas acometem todo o cérebro, causando a perda de consciência e sintomas que variam de abalos de todo o corpo, postura tônica, e até atonia (onde há um relaxamento global de todos os músculos). Há também as crises parciais, em que apenas uma porção do cérebro é acometido, sendo que este tipo é dividido em: parciais simples, com sintomas apenas motor, visual ou de mal-estar, sem afetar a consciência; e crises parciais complexas, quando há acometimento do controle motor ou visual e também alguma alteração na consciência, mas não a sua perda, como acontece com as crises generalizadas.

3- Ao se deparar com uma pessoa tendo uma crise epiléptica, deve-se colocar a mãe na boca e segurar a língua para que ela não engasgue. MITO!
A recomendação é proteger a cabeça destes indivíduos, afastá-lo de objetos e móveis que possam machucá-lo e deixá-lo se debater livremente até que a crise passe. Não se deve NUNCA colocar a mão ou o dedo na boca do paciente e, como há salivação intensa, deve-se manter o corpo de lado para evitar que o paciente se sufoque com a própria saliva. 



4- O tratamento da epilepsia pode ser medicamentoso ou cirúrgico. VERDADE!
O tratamento convencional para a epilepsia é por via medicamentosa, com uso das chamadas drogas antiepilépticas (DAE), eficazes em cerca de 70% dos casos (há controle das crises) e com poucos efeitos colaterais. Quando não houver controle destes sintomas, outros tratamentos possíveis são a dieta cetogênica, a cirurgia e a estimulação do nervo vago. No entanto, apenas o neurologista, analisando o caso, poderá indicar o tratamento apropriado para o paciente.

5- Paciente de epilepsia não consegue levar uma vida normal, devido às crises da doença. MITO!
O paciente com epilepsia tem vida normal, e boa parte das crianças com epilepsia consegue retirar a medicação e ficar livre das crises antes da adolescência.Mesmo usando medicações, o portador de epilepsia, em geral, consegue estudar, trabalhar, se divertir, integrar-se socialmente, dirigir, casar e ter filhos.

6- A epilepsia não é transmitida pelo ar ou contato físico. VERDADE!
A epilepsia é um distúrbio neurológico, não sendo transmitida pelo contato físico ou pelo ar.

7- Informação e conscientização ajudam a diminuir preconceitos em relação à doença e seus portadores. VERDADE!
Infelizmente, a epilepsia ainda gera muitos mitos e dúvidas entre a população, chegando também a atos de preconceitos que poderiam ser evitados pela informação e conhecimento da doença.

8- A epilepsia é mais prevalente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. VERDADE!
A subnutrição da mulher e a não realização do pré-natal, realidades muito frequentes ainda em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, podem desencadear o surgimento da epilepsia na criança. Condições inadequadas de higiene podem facilitar infecções durante o pré-natal, e ser uma atenuante no desenvolvimento do cérebro do bebê. Por isso, vale lembrar que a ocorrência da epilepsia regiões subdesenvolvidas e/ou em desenvolvimento sugere que a falta de higiene pode ser uma causa peculiar da epilepsia.
9- Diversas personalidades importantes da história da arte, música e literatura tiveram epilepsia e eram verdadeiros gênios, reforçando que a epilepsia não impede que a pessoa portadora da doença leve uma vida normal. VERDADE!
Apesar do estigma, os pacientes com epilepsia têm uma vida ativa, como tiveram Vincent van Gogh, Fiódor Dostoiévski e Machado de Assis, grandes nomes da artes e literatura que eram portadores da doença

sábado, 6 de maio de 2017

AVALIANDO O PERÍMETRO CEFÁLICO

Retirado do Portal Educação: para ler na pagina original, clique aqui



Segundo o Ministério da Saúde (2002) consiste na avaliação do crescimento da cabeça e do cérebro,
deve ser utilizado como parâmetro nos dois primeiros anos de vida, já que, após este período, o crescimento é muito lento não podendo ser considerado parâmetro para avaliação nutricional.

Mesmo não sendo considerado por muitos como um parâmetro de avaliação nutricional após os dois ou três anos de idade, alguns estudos investigativos estão sendo feitos e alguns critérios avaliativos do crescimento ainda incluem a medicação do perímetro cefálico como necessária até os seis anos de idade da criança.

Segundo Engel (2002) o perímetro cefálico deve ser verificado por meio da seguinte técnica:
- Preferencialmente utilizar fita métrica de papel ou de metal flexível, já que a fita métrica flexível pode esticar;
- Colocar a fita em torno da cabeça da criança, passando pelos pontos imediatamente acima das sobrancelhas e orelhas, e em torno da saliência occipital;
- Nos casos em que a circunferência da cabeça está sendo verificada diariamente, a cabeça deverá ser marcada nos pontos principais, para que não haja inconsistência nas medidas;
- Se a circunferência da cabeça do bebê está acima do normal ou abaixo do normal, uma avaliação mais detalhada é necessária;
- Crianças com circunferência cefálica pequena podem indicar craniossinostose ou microcefalia, sendo que bebês nascidos de mães usuárias de cocaína ou álcool podem ter circunferências cefálicas menores.

Segundo Junior (2005) a craniossinostose é definida como o fechamento prematuro das suturas do crânio. Filho (2005) descreve como um grupo de condições heterogêneas de diferentes características clínicas, genéticas e moleculares, com uma incidência aproximada de 1 em 1.800 recém-nascidos.

Jelliffe & Jelliffe (1989) recomendam fixar a cabeça da criança, colocar a fita métrica firme em torno do osso frontal sobre o sulco supraorbital, passando-a ao redor da cabeça, no mesmo nível de cada lado, e colocando-a sobre a proeminência occipital máxima.

Segundo Kenner (2001) a circunferência média encontrada em um recém-nascido normal está em torno de 32 a 35 cm. A tabela abaixo demonstra o crescimento normal do perímetro cefálico (cm/mês):

Idade    Perímetro Cefálico (cm/mês)
0 – 3 meses    2 cm ao mês
3 – 6 meses    1 cm ao mês
6 – 9 meses    0,5 cm ao mês 
9 – 12 meses  0,5 cm ao mês 
1 – 3 anos       0,25 cm ao mês 
4 – 6 anos       1 cm ao ano


Para realizar a avaliação e acompanhamento da criança e o crescimento do perímetro cefálico utiliza-se um gráfico. Este gráfico está presente na Caderneta de Saúde da Criança, Ministério da Saúde (2005) e a cada consulta de puericultura, após a aferição das medidas é feita o registro do valor encontrado.

O gráfico utilizado para acompanhamento do perímetro cefálico é composto por uma linha vertical que indica os centímetros encontrados e uma linha horizontal que representa a idade da criança em meses. A linha vertical que indica os centímetros de PC inicia em 30 cm e termina em 52 cm. A linha horizontal que indica a idade em meses inicia em zero e termina em 2 anos, sendo que a cada ano são contados como 12 meses. Na Caderneta de Saúde da Criança existem dois gráficos para acompanhamento do crescimento cefálico, um deles refere-se à menina e o outro ao menino. O acompanhamento sugerido pelo Ministério da Saúde, expresso na Caderneta a Avaliação, inicia-se ao nascer e tem continuidade até os dois anos de idade da criança. O seguinte representa o Gráfico de Perímetro Cefálico de 0 a 2 anos em Meninas:

FONTE: Caderneta de Saúde da Criança – Ministério de Saúde (2005). Desta forma, todas as vezes que for mensurado o perímetro cefálico da criança, anota-se o valor encontrado e a idade da criança naquele momento. Com auxílio de uma régua e uma caneta registra-se por meio de um ponto; conforme a próxima consulta faz-se a união dos pontos e com isso a visualização da evolução do crescimento do perímetro cefálico.

Este gráfico é baseado em resultados de uma amostra de população estudada, constituindo-se em um referencial, ou seja, um conjunto de dados construídos com indivíduos de outra população. Neste caso, está expresso como padrão o elaborado pela National Center of Health Statistics - NCHS (1977 -1978).

Na avaliação deste gráfico é importante ter em mente o uso do percentil que se conceitua como uma medida da posição relativa de uma unidade observacional em relação a todas as outras. Observando o gráfico acima é possível identificar que a faixa amarela que se encontra entre os Percentis 10 e 90, ou seja, P10 e P90 indicam um estado de normalidade de crescimento do perímetro cefálico.

Abaixo o Gráfico de Perímetro Cefálico de 0 a 2 anos dos Meninos:

FONTE: Caderneta de Saúde da Criança – Ministério da Saúde (2005).

O perímetro cefálico do bebê: macrocefalia e microcefalia

Em tempos de zika e outras doenças infecto-parasitárias no Brasil as variações nas medidas do crânio dos bebês são um problema cada dia mais detectado, trazendo dúvidas e angústias par todas as mamães e papais. Mas, afinal, o que é perímetro cefálico? Qual o problema em se ter uma medida menor ou maior que a media, no livrinho da criança? Quando devemos procurar um especialista?
perímetro cefálico ou perímetro craniano é a medida do contorno do crânio em sua parte maior. A medida é feita usando-se uma fita métrica e repetida mensalmente pelo médico - preferencialmente o mesmo médico, com a mesma fita métrica. A fita deve ser posicionada sobre as orelhas, na testa acima das sobrancelhas e na parte mais posterior da cabeça. Nas revisões pediátricas de rotina, a medida do perímetro cefálico do bebê será sempre realizada, como um dado a mais no estudo da saúde do bebê. 

Valores padrão do perímetro craniano do bebê


Um recém-nascido termo (entre 37 e 42 semanas de gestação) tem um perímetro cefálico médio de 34 cm, sendo levemente menor nas meninas. Tal contorno, o perímetro, tem crescimento acelerado nos primeiros 6 meses de vida - em particular nos primeiros 3 meses- e adota um crescimento bastante lento daí por diante.
Contudo, a realidade é que, no crânio dos bebês, os ossos ainda não estão fundidos. Seu cranio é formado por placas ósseas móveis, não soldadas, que podem se montar entre si. Existem ainda alguns ocos ou espaços não fechados entre 3 ou mais ossos, denominadas fontanelas (popularmente conhecida como moleira). 
O não fechamento dos ossos auxilia na passagem do bebê pelo canal vaginal, mas é mais importante por permitir o crescimento e amadurecimento do cérebro nos primeiros meses de vida, permitindo assim que as crianças se desenvolvam e amadureçam


Tabelas e medidas do perímetro craniano dos bebês


A medida do perímetro cefálico faz parte da rotina do pediatra em cada visita do bebê para verificar o desenvolvimento sadio da criança, tanto ao nascer como depois, normalmente até os 3 anos de idade. Às vezes, depois do nascimento, a forma da cabeça pode evidenciar que os ossos se montaram uns sobre os outros ou é possível que exista algum hematoma. Isto é normal, e não há motivos para desespero.


Para se identificar corretamente estas anomalias existem umas tabelas que indicam os valores médios e os desvios padrões no crescimento do cranio. Tomando nota em cada visita ao pediatra do valor em cada momento do crescimento se obtém uma sucessão de medidas que formarão uma curva, que se situa dentro dos parâmetros padrão, que dependem do sexo e da idade do bebê. As medidas contínuas sobre as tabelas, que expressam valores médios servem como guia ao pediatra para detectar possíveis problemas relacionados com o tamanho da cabeça do bebê. 


Microcefalia e macrocefalia em bebês 

Ainda que as alterações extremas do tamanho da cabeça dos bebês possam ser detectadas precocemente durante a gravidez graças as ultrasonografias obstetricas, quando o bebê já tenha nascido podemos falar de microcefalia ou macrocefalia. 
A microcefalia: manifesta-se quando a cabeça do bebê é excessivamente pequena. Pode ser causada por uma taxa de deficiência no crescimento do cérebro, devido a uma doença genética ou desnutrição; a uma fusão precoce dos ossos do crânio ou a um mau desenvolvimento do cérebro. 
- A macrocefalia: é uma anomalia que, com o desenvolvimento do bebê, geralmente acaba desaparecendo. É habitual que, ao nascer, o bebê apresente umas proporções da cabeça mais elevadas. Mas, se a proporção da cabeça for excessivamente grande, a causa pode ser uma macrocefalia simples (herança familiar) ou uma hidrocefalia, que se produz pelo acúmulo de líquido cefalorraquidiano. Outras causas podem ser uma meningite (inflamação do cérebro, membranas e envoltórios, assim como da medula espinhal), um tumor cerebral ou a doença de Canavan (doença hereditária que provoca a degeneração ou ruptura das células nervosas do cérebro).  
CONTUDO, É FUNDAMENTAL NÃO SE ESQUECER QUE HÁ VARIAÇÕES BENIGNAS, FAMILIARES, DE CRESCIMENTO DE PERÍMETRO CEFÁLICO. PORTANTO, EM CASO DE DÚVIDAS, DEVE-SE CONVERSAR SOBRE O ASSUNTO COM UM PEDIATRA, QUE ORIENTARÁ SE É NECESSÁRIO OU NÃO A AVALIAÇÃO DE UM NEUROPEDIATRA, ESPECIALISTA. SEM DESESPERO, PESSOAL!


Atividades físicas ajudam no tratamento de TDAH

A renomada revista Pediatrics publicou um estudo da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, mostrando que atividade física pode auxiliar pessoas que possuam Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), melhorando de forma significativa variados aspectos cognitivos dos indivíduos com esse transtorno.
Os alunos foram acompanhados por 9 meses, com diferenças importantes no desempenho escolar dos individuos que praticavam esportes, em relação aos não praticantes. Habilidades como focar, alternar focos em tarefas distintas e memória de trabalho (curtissimo prazo) foram mais bem avaliadas nos praticantes de esportes.

Há também outros estudos, como o da Universidade Estadual de Michigan, que demonstrou que um programa de exercícios de 12 semanas poderia melhorar o desempenho de todas as crianças em relação a matemática e leitura - resultado ainda maior entre as portadoras de TDAH.
Um trabalho similar da Universidade de Purdue, e publicado no Journal of Attention Disorders, também mostrou que apenas 26 minutos de atividades físicas diárias durante 8 semanas poderia diminuir significativamente os sintomas do TDAH em crianças da escola primária.
Obviamente, nada disso substitui o tratamento medicamentoso, o apoio multidisciplinar, o auxilio familiar e a adoção de medidas adaptativas no ambiente escolar. Mas, por obvio, o esporte além de ser uma atividade formadora das crianças se mostra agora uma alternativa divertida para ajudar no tratamento de TDAH. E aí? Mãos a obra? 💪

Cartilha sobre autismo

Pessoal, o Ziraldo escreveu uma cartilha informativa sobre o autismo. Quem quiser saber mais pode fazer o download clicando AQUI


Autismo

Reportagem retirada da coluna Letra de Medico, da revista VEJA



Uma das condições clínicas que mais desafia profissionais da área de saúde atualmente é o Transtorno do Espectro do Autismo. O número de casos vem aumentando ano a ano de forma exponencial no mundo todo, sem que alguém possa explicar o porquê.
Em um primeiro momento se atribuiu o aumento explosivo à mudança do critério diagnóstico e à maior atenção dada aos sinais precoces de autismo, já que na classificação de “espectro” se encaixam casos de diferentes gravidades e condições clínicas, incluindo algumas que há pouco tempo atrás nem seriam chamadas de autismo, como dificuldades de comunicação e interação social, atitudes peculiares e comportamentos repetitivos e restritos, podendo inclusive estar associados a outros problemas psiquiátricos e neurológicos como epilepsia, déficit de atenção, hiperatividade, dificuldade intelectual, até a anomalias físicas.
Porém, nota-se que mesmo agora, anos após a mudança no critério de classificação que passou a entender o autismo como um espectro, o número de casos continua aumentando de forma impressionante, sugerindo que a explosão da prevalência não se deve unicamente ao critério de classificação mais amplo.
Nos Estados Unidos, aonde existem estatísticas confiáveis, dados apontam que um em cada 42 meninos e uma em cada 189 meninas apresenta diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (de fato afeta mais os meninos na proporção de 4,5 meninos para uma menina). Devemos levar em conta que estes números de prevalência podem variar em diferentes contextos populacionais e ambientais, mas, não bastasse o aumento do número de casos, até a presente data, pouco se sabe sobre suas causas, apesar de muito investimento em pesquisa em mais de um século de conhecimento da condição.

A história da pesquisa do autismo está ligada à Áustria

Interessante, cinco austríacos estão entres os nomes mais importantes da história do conhecimento do autismo: Freud, Breuer, Kanner, Bettleheim e Asperger. O termo “autismo” já é conhecido desde a época em que o famoso médico neurologista austríaco Sigmund Schlomo Freud lançou ao mundo sua visão biopsicossocial do ser humano, e seu colega austríaco médico Josef Breuer descreveu pela primeira vez o termo “autismo”. Porém, naquela época, relacionando-o muito mais como um sintoma da esquizofrenia infantil do que com o que conhecemos hoje como Transtorno do Espectro do Autismo.
Décadas depois, outro austríaco, o psiquiatra infantil Leo Kanner, usou o temo “autismo” descrevendo-o como um quadro diferente da esquizofrenia infantil e chamando a atenção para o prejuízo severo na interação social que era muito evidente desde o início da vida desses pacientes.
Mais um austríaco, o pediatra Hans Asperger descreveu, em 1944, um padrão de comportamento que incluía falta de empatia, baixa capacidade de formar amizades, conversação unilateral, intenso foco em um assunto de interesse especial e movimentos descoordenados. Mas, talvez, seu maior mérito foi destacar que muitos tinham habilidades impressionantes. Chamou estes meninos de “Psicopatas Autísticos”.
O reconhecimento destes talentos especiais acabou dando mais tarde o nome à “Síndrome de Asperger”, que até pouco tempo era classificada dentre os Transtornos do Espectro do Autismo. Porém, atualmente, o termo técnico aplicado à Síndrome de Asperger é Desordem do Espectro Autista de Nível 1, ou seja, grau leve, sem a presença de prejuízos intelectuais ou verbais.

Múltiplas causas levam ao Transtorno do Espectro do Autismo

Apesar entendermos, desde longa data, que o transtorno é causado por múltiplos fatores, ainda não os conhecemos de forma clara. Este hiato de conhecimento permite que teorias sobre causas e curas mirabolantes sejam historicamente “empurradas” sobre as famílias dos afetados.
Estas tentativas ineficientes de identificar as múltiplas causas do autismo se tornaram mais notórias com a divulgação no mundo todo da “teoria da mãe geladeira”, proposta pelo próprio Leo Kanner em 1949, culpando as mães pela falta de atenção e cuidados destas crianças. Esta ideia foi reforçada por outro austríaco, o psicólogo Bruno Bettleheim. Porém, apesar da enorme contribuição, todos ignoraram o simples fato concreto que estas mesmas “mães geladeiras” têm outros filhos que nasceram antes e depois do filho autista, e que, na grande maioria das vezes, não têm autismo.
Teriam estas mães se “refrigerado” só nos cuidados ao filho autista e “se aquecido” nos cuidados dos outros filhos, incluindo os que nasceram antes do autista? Certamente não. Teorias inverossímeis persistem até os dias atuais, como “intoxicação por mercúrio”, “sequelas das vacinas”, “intolerâncias alimentares”, entre outras falácias sem nenhuma comprovação científica, mas que trazem grande prejuízo à saúde do autista, e expectativas falsas aos pais e familiares, já tão aturdidos com a complexa condição de seus filhos.

Autismo não tem cura, mas tem tratamento

Uma doença tão complexa e enigmática, que tem múltiplas causas, dificilmente será curada por uma única intervenção “mágica”. Mas não ter cura não significa que não tenha tratamento, e o mais aceito é baseado na teoria comportamental, cientificamente comprovada que, quanto mais precocemente for iniciada, melhor o prognóstico a médio e longo prazo.
Existe uma “janela de oportunidade” para início do tratamento, janela esta que diminui muito depois dos três anos de idade, e que, portanto, não pode ser desperdiçada por medo, mitos e ignorância.
Existem muitas iniciativas de pesquisa com o intuito de permitir que o diagnóstico seja feito cada vez mais cedo na vida. Uma delas vem dos esforços de décadas de um dos mais renomados cientistas mundiais em autismo, o psicólogo brasileiro Mauro (Amir) Klin, que mora nos Estados Unidos e lá desenvolveu uma metodologia científica que permite monitorar o movimento dos olhos de crianças desde os primeiros meses de vida, captando o padrão já reconhecido dos autistas de evitar o contato visual, em especial com humanos.
A segunda iniciativa trouxe seus melhores frutos este mês, baseada na dosagem de algumas substâncias no sangue das crianças, metabólitos envolvidas em processos como o estresse oxidativo e mecanismos epigenéticos (metilação do DNA). Um artigo científico que acaba de ser publicado na revista científica PLoS Comput Biol por pesquisadores do Rensselaer Polytechnic Institute in Troy, de Nova York, liderados pelo Juergen Hahn, demonstra que analisando ao mesmo tempo mais de um metabólito específico no sangue destas crianças (FOCM e TS), um alto índice de suspeição pode ser alcançado.
Estas novas ferramentas ainda não substituem, mas devem se somar aos métodos tradicionais de diagnóstico. A grande vantagem delas é que abrem a possibilidade de trazer a suspeita à tona em um momento mais precoce da infância, quando a janela de oportunidades ainda estará aberta por mais tempo, permitindo mais eficácia nas intervenções.
Um diagnóstico precoce, ou mesmo uma suspeita precoce, seguida do início imediato de terapia comportamental já no primeiro ano de vida, é o que de melhor existe no conhecimento atual para dar uma chance a uma criança autista de ter um futuro melhor e mais adaptável às exigências da sociedade em que vivemos.

Avanços na compreensão do componente genético do autismo

Há muitos anos já se acumulavam evidências de que a participação da genética entre os múltiplos fatores causais do autismo era maior do que historicamente se atribuía:
  • Estudos científicos demonstravam que entre gêmeos idênticos (aqueles que compartilham o mesmo DNA), quando um tinha autismo a chance do outro ter Autismo é de 36-95%. Quando a mesma comparação era feita entre gêmeos não idênticos (não têm o mesmo DNA), quando um tinha autismo, a chance do outro ter autismo é menor, cerca de 0-31% Estes dados sugerem forte componente genético no autismo;
  • Pais de um filho com autismo têm uma chance maior de ter um segundo filho com autismo, do que aquela esperada se não houvesse componente genético;
  • Autismo tende a ocorrer com maior frequência em pessoas que têm uma entre centenas de condições genéticas, como nos indivíduos com Síndrome de Down, Síndrome de Rett, Esclerose Tuberosa, Síndrome de Angelman e Síndrome do X-Frágil;
  • Familiares de autistas têm, com maior frequência do que a população geral, sinais mais leves do espectro do autismo.
Mas foram nos últimos 10 anos, com o fabuloso avanço das técnicas de investigação do material genético, que um número crescente e irrefutável de informações científicas aponta para uma contribuição genética em uma fração importante dos casos. Centenas de estudos genéticos se acumularam, e hoje se sabe que testes genéticos podem detectar a causa do componente genético em 10% a 40% dos casos de autismo, com taxa maior de detecção nos casos em que tecnologias de análises genéticas mais modernas são utilizadas e em casos onde o autismo está presente associado a outros problemas de saúde e sinais físicos como parte de síndromes.
O mais amplo, moderno e aprofundado estudo deste tipo acaba de ser publicado na revista científica Nature Neuroscience. Foi realizado pelo grupo de pesquisa conhecido como The Autism Speaks MSSNG Project, uma colaboração entre ONGs de pacientes e familiares (Autism Speaks), geneticistas liderados pelo Dr. Stephen Scherer (Hospital for Sick Children de Toronto, Canadá) e informatas do Google, naquele que já é considerado o maior programa de estudos genéticos em autismo no mundo. O nome do grupo – MSSNG – com a falta proposital das letras “I” que formariam a palavra de significado “desconhecido” sinaliza justamente a necessidade de se compreender as causas do autismo, acima descritas.
Este estudo demonstrou que, apesar da estimativa que variações em centenas dos 20.000 genes possam estar implicados na causa do autismo, este número ainda não é definitivo e a busca ainda não se esgotou. Analisando o DNA de 5.2015 pessoas com autismo, com a tecnologia mais profunda e moderna que a genética conhece, identificaram 18 novos genes que ainda não se sabia serem relacionados ao autismo.
Hoje podemos afirmar que existem no nosso genoma ao menos 71 genes relacionados ao autismo, e 736 genes são “candidatos” que necessitam de mais confirmação. Este número enorme de genes, confirmados e candidatos, demonstra que o Transtorno do Espectro do Autismo não é uma única entidade, mas sim, inúmeras entidades que alteram um número finito e menor de vias metabólicas e acabam causando uma síndrome composta de sinais variáveis, mas não tão heterogêneos.
Cada vez mais os pesquisadores acreditam que, ao invés de tentar corrigir os milhares de genes, um caminho menos ambicioso parece ser desenvolver medicamentos e/ou atitudes que alterem o comportamento e o meio ambiente e consigam impactar estas vias metabólicas.

O papel do médico geneticista nos cuidados do autista e seus familiares

Hoje, mais de um século depois que Breuer descreveu pela primeira vez o termo “autismo”, podemos considerar o Transtorno do Espectro do Autismo como uma desordem multifatorial do neurodesenvolvimento, com forte influência genética. Esta influência pode ser bastante diferente para cada indivíduo.
Compreender o componente genético de caso a caso pode trazer informações sobre prognóstico, conduta médica personalizada e aconselhamento genético para os familiares que pretendem ter mais filhos. Por exemplo, se um determinado casal tem um filho com autismo pela Síndrome do X-frágil, as chances de que outro filho homem venha a ter a Síndrome do X-frágil é de 50%.
Se um casal tem dois filhos com autismo não-sindrômico, a chance de um terceiro vir a ser afetado aumenta para algo em torno de 32%. Se um casal tem um filho com autismo por um erro inato do metabolismo como a Fenilcetonúria, as chances de virem a ter outros filhos com Fenilcetonúria serão de 25% em cada nova gestação.
Já se as principais causas genéticas de autismo até hoje conhecidas forem afastadas, o risco de repetição para casais que têm um único filho autista passa a ser aquele de estudos empíricos populacionais, em torno de 20%. Enfim, o papel do médico geneticista é cada vez maior nos cuidados da equipe multidisciplinar que deveria atende um autista.
No futuro, esta estratificação genética ajudará a tornar mais homogêneo os grupos de pacientes que se submeterão a pesquisa de medicamentos que possam melhorar a qualidade de vida dos autistas.

O papel do Meio Ambiente no Autismo

Caracterizar o componente genético poderá trazer luz sobre a interação entre os efeitos combinatórios entre mais de um gene conferindo predisposição ao autismo, assim como facilitar os estudos que certamente virão decifrar o papel do meio ambiente, neste que é um dos maiores enigmas da medicina atual.
Importante ressaltar que nesta definição (“desordem do neurodesenvolvimento com forte influência genética”), será fundamental decifrar a influência do meio ambiente. Mesmo não havendo ainda provas irrefutáveis de quais são as causas ambientais, estão sendo citadas cada vez mais frequentemente condições ambientais que poderiam ser responsabilizadas, ao menos em parte, pelo aumento na prevalência do Transtorno do Espectro do Autismo, tais como disfunções metabólicas da gestante (diabetes, diabetes gestacional e obesidade) e uso de determinadas drogas na gestação (antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina, etc.).

Nem Nature, nem Nurture: O futuro das pesquisas do autismo está na epigenética!

Apesar de todos estes avanços da genética nos últimos anos, não se tem ideia dos fatores que levam a maioria dos indivíduos a ter autismo. Os genes não mudam durante a vida de uma pessoa, mas a produção de certas proteínas pelos genes pode variar de acordo com estímulos do meio ambiente, o que conhecemos por epigenética. Avanços nas pesquisas de epigenética devem ser a nova fronteira a ser desvendada, quando em breve a análise de fatores presentes no DNA já não trouxer tanta informação como ainda traz hoje.
Na busca frenética por uma melhor compreensão, esperamos que os pesquisadores encontrem um equilíbrio entre e a resposta para uma pergunta milenar: O que é mais importante, a natureza (nature, genética) ou o meio ambiente (nurture, psicologia)? Tudo indica que a resposta para esta pergunta é justamente compreender que a pergunta foi inicialmente mal formulada: são duas vias de uma mesma estrada chamada epigenética.