sábado, 7 de abril de 2012

TDAH x drogas/criminalidade: o que se sabe?




Embora se saiba dos problemas sociais, familiares e escolares relacionados a presença de TDAH, um dado mais alarmante vem chamando a atenção da comunidade científica: a propensão destas crianças a desenvolverem no futuro comportamento criminoso, transtornos psiquiatricos e dependencia de drogas.

Em um estudo desenvolvido em Nova York em 2006, com adultos que persistiram com TDAH e nunca foram tratados, a incidencia de transtornos de humor (depressão, distimia, transtorno bipolar), transtornos de ansiedade ( transtorno de ansiedade generalizada, T. pânico, fobia, agorafobia) e abuso de substancias ( alcool, cigarro e drogas ilícitas) mostrou-se incrivelmente maior no grupo dos adultos não tratados com TDAH, em relação a populaçcao em geral. A incidencia de depressão maior mostrou-se 2,7 vezes maior e a de t. de ansiedade generalizada 3,2 vezes maior no grupo dos pacientes com TDAH em relação a população.
( Referência Kessler et al.: The prevalence and correlates of adult ADHD in the United States: results from the National Comorbidity Survey Replication. Am J Psychiatry. 2006 Apr;163(4):716-23)

Em um outro estudo realizado em Nova York em 2008, o acompanhamento das crianças com TDAH com e sem tratamento mostrou dados ainda mais alarmantes ( coorte histórico). O número de prisões, condenações e encarceramento em pacientes com TDAH não tratados foi expressivamente maior do que nos individuos sem TDAH ou que tiveram tratamento/acompanhamento adequado ao longo da infância. Além disso, o comportamento antisocial e a incidencia de uso/abuso de drogas também foi maior no grupo dos pacientes com TDAH que nunca foram tratados.
(Referencia: Mannuzza, S., Klein, R.G., & Moulton, J.L., III Lifetime criminality among boys with ADHD: a prospective follow-up study into adulthood using official arrest records. Psychiatry Research, 160, 237-246)

Por fim, um estudo antigo publicado na prestigiada revista Pediatrics, em 1999, mostra que tais informações são velhas conhecidas da comunidade científica.Segundo o estudo, o tratamento medicamentoso do TDAH reduziria o risco de transtorno de conduta e abuso de drogas na adolescencia e idade adulta.
( Ref:. Biederman, J., et al. Pharmacotherapy of attention-deficit/hyperactivity disorder reduces risk for substance use disorder. Pediatrics 104(2):e20, 1999)

É claro que a opção por não tratamento não significa que a criança desenvolverá qualquer dos distúrbios psiquiátricos ou de conduta citados, mas fica a dúvida: existindo a opção de tratamento, vale a pena desprezá-la? Não existe espaço no século 21 para as velhas desculpas do tipo: "o médico na televisão falou que TDAH não existe", "tem uma professora de medicina em Campinas que fala que para tratar esse tipo de coisa não se usa remédio forte", "o moço do jornal falou que o remédio é forte e vicia" ou mesmo a velha conversa de que " eu era assim quando criança", " ela fica procurando coisas para o menino" ou " a mãe dele não dá limites"...

O TDAH é mais do que comprovado e estudado na literatura, tem repercussões importantes na vida social, escolar, familiar e afetiva da criança e pode causar sérias repercussões na adolescência e idade adulta. E a pergunta que fica é: vale a pena negar sua existência ou a presença em seu filho? Vale a pena arriscar seu futuro? Escolher não tratá-lo não é a pior forma de virar as costas para as dificuldades e para o sofrimento de seu filho por vaidade, arrogância ou conveniência pessoal? Com a palavra, os principais responsáveis pela formação de adultos sérios, responsáveis e produtivos para a sociedade: os pais.