terça-feira, 29 de novembro de 2011

Estudo mostra que enxaqueca infantil costuma ser subestimada pelos pais



Quando uma criança se queixa de dor de cabeça, pais e professores logo pensam que ela está precisando de óculos, mas problemas visuais raramente são as causas de um distúrbio mais sério e ainda subestimado em crianças e jovens: a enxaqueca. Os verdadeiros culpados incluem dieta inadequada, alterações hormonais, privação de sono e predisposição genética, segundo pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto.

O estudo revelou que os principais sintomas da enxaqueca infanto-juvenil são dores concentradas em um lado da cabeça, náusea, vômitos, palidez e mais sensibilidade à luz e ao barulho. A dor é pulsante e piora com o esforço físico, sendo comum a criança parar de brincar nessa situação. A duração da crise parece ser mais breve que nos adultos: meia hora ou até menos. Segundo os autores, o melhor a fazer é colocar a criança para descansar em um lugar bem ventilado, escuro e silencioso.

Segundo as estimativas da Academia Brasileira de Neurologia, a enxaqueca atinge cerca de 18% da população do país. Nas crianças e jovens os dados são escassos, mas o estudo de Ribeirão Preto indica que até 12% dos meninos e meninas com mais de 10 anos têm predisposição genética para o problema.

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Sem tratamento adequado, quase metade dos jovens faz uso abusivo de analgésicos


Quase 2 milhões de crianças e adolescentes brasileiros sofrem com dor de cabeça pelo menos dez dias por mês. Por falta de diagnóstico e tratamento adequado, quase metade deles acaba fazendo uso abusivo de analgésicos, o que pode piorar o quadro e trazer outros prejuízos à saúde.

A estimativa foi feita pelo neurologista Marco Antônio Arruda, da Sociedade Brasileira de Cefaleia, com base em uma pesquisa com 6.383 crianças e adolescentes entre 5 e 18 anos. Mais de 80% disseram já ter sentido dor de cabeça ao menos uma vez, 10% foram diagnosticados como portadores de cefaleia tensional e 8% como portadores de enxaqueca. "Cerca de 2,5% da amostra têm o que chamamos de cefaleia crônica de alta frequência e, desses, 53% disseram tomar analgésico mais de dez dias por mês. É um exagero", diz o médico.

O consumo excessivo de remédios faz com que o corpo pare de produzir substâncias analgésicas naturais, como endorfinas. Com o tempo, as crises se tornam mais frequentes e intensas. Além disso, as drogas podem afetar os rins, fígado, coração e trato digestivo.

Mikael Correa, 11 anos, teve sua primeira crise de enxaqueca aos 7. Mas o problema só foi diagnosticado dois anos mais tarde e, nesse meio tempo, ele chegou a ter quatro episódios de dor por semana. Hoje, graças ao tratamento preventivo, o menino tem, em média, uma crise por mês. Mikael usa remédios e tem um diário, com os dias e o tempo que duram as crises.

As dores de cabeça crônicas estão relacionadas a um desequilíbrio químico no cérebro, explica a neurologista Thaís Villa, do setor de cefaleia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Analgésicos resolvem a dor aguda, mas, quando o problema é recorrente, é preciso medicamento para corrigir o desequilíbrio."

Mas a maioria das crianças e adolescentes que sofrem de cefaleia crônica não é diagnosticada e tratada, afirma Arruda. Isso as deixa mais predispostas a sofrer de distúrbios do sono e problemas de comportamento, como agressividade ou retraimento.

Estudo mostra também que o risco de desempenho escolar abaixo da média é 40% maior entre os que têm dor de cabeça crônica. O índice de absenteísmo escolar também foi mais alto. Além disso, outro estudo revelou que crianças com enxaqueca têm o funcionamento cognitivo afetado, e desempenho inferior em testes de atenção, memória e processamento de informação. (AE)

Dicas

Gatilhos
Privação de sono, jejum prolongado, sol forte, estresse e alguns alimentos, como chocolate, são gatilhos comuns para as crises. Tente identificar quais deles afetam a criança e evite-os

Sono
As crises na infância são curtas e melhoram com o sono. Tente colocar a criança para dormir em local escuro e silencioso antes de apelar para analgésicos

Rotina
Procure respeitar os horários para comer e dormir. O ideal é que a criança deite cedo

Sinais
Criança pequena que interrompe subitamente uma atividade de que gosta pode estar com dor